Saber chegar invés de colonizar (revisto - Edição Jun.2022)


Polarização: de um lado, colonização; do outro, saber chegar. 

É bom saber chegar nas pessoas e nos lugares: cada pessoa tem um jeito particular de percepção, logo, de comunicação; e cada lugar tem um ambiente, momentos e movimentos próprios. 

Cada pessoa e cada lugar tem a sua própria memória, história e carga emocional agregada. 

É bom saber chegar. 

O colôno não sabe chegar: ele não sabe parar, escutar, observar, sentir, aperceber o ambiente e as pessoas ao seu redor que funcionam diferentes do jeito dele funcionar e de aperceber a realidade, a si mesmo e os outros. 

Assim, o colôno sempre tenta transformar os lugares onde chega nas terras que ele deixou para trás, impondo seus jeitos de fazer as coisas e suas percepções de realidade nos povos das terras às quais chega. 
O colôno não sabe chegar: por isso é que estamos vivendo uma colonização mundial, física e mental, sem qualquer respeito pela memória das terras colonizadas, pela sua história, pelo sentimento dos povos e dos indivíduos. 

Será que a raiz cólon (do intestino grosso) na palavra colônia, está querendo nos dizer algo? 

A raiz gramatical que se nos apresenta, é um ambiente inóspito, próprio para a “propagação de microrganismos, formação de colônias de bactérias”, impróprio à vida humana, ácido, que queima e transforma em outra coisa, uma coisa que só serve para adubo. 

Para integrar começarei por usar as palavras do Prof Eduardo Coutinho (UFMG) – membro da equipe que criou os Princípios Norteadores para a Descolonização do Brasil: “acepção construtiva, seria desenvolver, cultivar, organizar e levar ou produzir riqueza a uma terra”, ao que acrescento: sem impor seja o que for aos que já moravam na terra, sem interferir, ou interferir o mínimo possível, na rotina e organização dos nativos, respeitando seu modo de viver e aperceber a realidade, suas tradições, suas memórias, suas histórias, seus patrimônios, suas terras, seus lares, suas famílias... e só ficando em suas terras se eles consentirem. Ou seja, existe colonizar (assentar) e existe o integrar: o primeiro é destrutivo e o segundo, construtivo. Essencialmente, estamos estudando como chegar. Estamos estudando como se chega nos lugares e nas pessoas. Nós não entramos em um restaurante de qualquer jeito: temos de saber chegar nos lugares. O problema é que os colônos não sabem chegar seja onde for: eles, simplesmente, querem que as coisas funcionem do jeito que eles querem que as coisas funcionem. Quando sabemos chegar nos lugares e nas pessoas, pedimos licença naquilo que tivermos que pedir licença: não entramos na casa da pessoa e começamos a dizer-lhe como ela deve fazer as coisas e organizar a sua casa e a sua vida, certo? A mesma coisa deve ser feita com os países.”

Quem se integra? 
Quem chega. 
E se não se integrar? 
Procura outro lugar onde consiga se integrar.

Será a verdade uma colonizadora quando chega na mentira?

Luz em nós

Comentários